O Gosto pelas Diferenças

O Gosto pelas Diferenças


Se sou diferente de ti, longe de te prejudicar, aumento-te

(Saint-Exupéry, Lettre à un otage).



Todos nossos reflexos negam esta evidência. A nossa necessidade superficial de conforto intelectual impele-nos a reduzir tudo a tipos e a julgar as coisas de acordo com esses tipos;:
mas a riqueza está na diversidade.
Muito mais profunda, mais fundamental, é a necessidae de ser único, para “ser” realmente. Temos a obsessão de ser reconhecidos como uma pessoa original, insubstituível; somo-lo na realidade, mas nunca estamos suficientemente certos de que aquelea que nos rodeiam têm consciencia disso. Que mais belo presente nos pode dar “alguém” do que reforçar a nossa unicidade, a nossa originalidade, sendo diferente de nós? Não se trata de adoçar os conflitos, de apagar as oposições; mas sim de admitir que esses conflitos e essas oposições devem e podem ser benéficos para todos.
A condição é que o objectivo não seja a destruição dos outros ou a instauração de um hierarquia, mas sim a edificação gradual de cada um. O choque, mesmo violento, é benéfico; permite a cada um revelar-se na sua singularidade. A competição, pelo contrário, quase sempre dissimulada, é destruídora, só pode levar a situar cada um dentro de uma ordem imposta, de uma hierarquia necessariamente artificial, arbitrária.
A primeira lição da genética é que os indivíduos, todos diferentes, não podem ser classificados, avaliados, ordenados, pois a defenição de “raças”, útil em determinadas investigações só pode ser arbitrária e imprecisa. A pergunta sobre “ o menos bom” e o “melhor” não tem resposta. A qualidade específica do homem, a inteligência, de que tanto se orgulha escapa no essencial às nossas técnicas de análise. As tentativas passadas de “melhoria” biológica deo homem forma por vezes simplesmente rídiculas, e na maior parte dos casos criminosas no tocante aos indivíduos, devastadoras para o grupo.
Felizmente, a natureza dispõe de maravilhosa robustez para enfrentar os danos causados pelo homem. O fluxo genético continua a sua obra de diferenciação e manutenção da diversidade, quase insensível aos manejos humanos. (...) Transformar o nosso património genético é uma tentação, mas esperamos que essa possibilidade fique muito tempo ainda fora do alcance.
Esta reflexão pode ser transpostav da genética para a cultura: as civilizações que segregámos são maravilhosamente diversas e essa diversidade constitui a riqueza de cada um de nós.



Texto de JACQUARD, Albert , O Elogio da Diferença, Publicações Europa América, 1978

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